segunda-feira, 29 de abril de 2013

A banalização do mal



POR ANTONIO JORGE FERREIRA MELO – 25 DE ABRIL DE 2013
PUBLICADO EM: COM A PALAVRA..., EM DESTAQUE

Nesta nossa pós-modernidade, a violência apresenta-se multifacetada e, assumindo os mais diversos rostos e matizes, as mais variadas formas, dissemina terror e medo entre nós, como sentimentos e realidades cotidianas, causando uma sensação de absoluta vulnerabilidade.

Embora todas as formas de violência sejam, afinal de contas, violentas, é claro que se pode fazer uma hierarquia entre estas e, nesse sentido, inegavelmente, o terrorismo é a mais abjeta  delas, pouco importando a sua natureza, a sua causa ou as justificativas utilizadas pelos seus autores para perpetrá-la.

Ao longo da história da humanidade, diversos valores e princípios foram exaltados em detrimento da vida humana e milhões foram mortos em nome da justiça, da liberdade e, até mesmo, de Deus, pois, as guerras santas são as que autorizam os piores massacres.

Com razão, o planeta está em choque com o atentado que causou a morte de três pessoas, deixando mais de 150 feridas, na maratona nos EUA, pois, com o objetivo de espalhar o medo, os terroristas não escolhem grupos sociais nem respeitam fronteiras, não raro, distorcendo as muitas vantagens da globalização, em benefício do seu jogo desumano e sem escrúpulos.

O inesperado ataque terrorista em Boston mostrou, mais uma vez, que ninguém está a salvo e serviu para que o Brasil ficasse ainda mais atento à segurança para os grandes eventos mundiais que se prepara para sediar, pois, também, pode se tornar um alvo de ações terroristas.

A lógica do terror é ter um inimigo disposto a retaliações que ampliem as crises e consequentemente a sua importância, mas, nenhum país pode considerar-se a salvo desse inimigo que se move nas sombras e escolhe suas vítimas ao acaso. Segundo a avaliação de especialistas em terrorismo como Gabriel Weimann, professor da Universidade de Haifa (Israel), a posição econômica desfrutada pelo Brasil, aliada ao seu histórico processo de exclusão social, pode nos tornar um território explorável para as organizações terroristas que recrutam seus militantes nas populações frustradas, infelizes e, não raro, cheias de ódio: as vítimas da anomia.

Como nos alerta Clóvis Rossi, citando Jonathan Freeedland, colunista do “The Guardian”, a realidade é que, no mundo intensamente globalizado de hoje, não se pode mais pensar em qualquer lugar como remoto. Nessa lógica, ao pensamento de Freeedland, acrescento o de Richard Bach, pois o “longe é um lugar que não existe” mais. Assim, hoje em dia, pelo menos, em termos de terrorismo, a sensação que se tem é que uma ameaça a um de nós constitui uma ameaça a todos.

Seria bom que as nossas manifestações de perplexidade, manifestadas a cada atentado terrorista nos EUA ou em outros países e que nos fazem pensar na segurança daqueles que nos visitarão na Copa do Mundo e na Copa das Confederações, também fossem expressadas em relação às mortes da nossa guerra civil não declarada, mas, percebe-se que está havendo uma banalização do mal, o mal não nos causa mais estranheza, englobado que está na normalidade da nossa vida social que oprime os mais fracos e favorece os mais fortes.

Não podemos nos esquecer que o que diferencia o terrorismo do simples homicídio está no nome. Assim, os homicídios cotidianos praticados contra inocentes, milhares de indivíduos anônimos, sobretudo jovens pobres, também, exigem reparação, justiça.

Seja lá como for, a história nos ensina que a violência política sempre foi mais ou menos banal e, ao que parece, será sempre assim, pois o que é considerado terrorismo para uns, pode ser considerado combate pela liberdade por outros. Afinal, não é sem sentido que o terrorista sanguinário e o guerrilheiro heroico podem ser, muitas vezes, a mesma pessoa. A diferença está nos olhos de quem vê, ou sofre, a violência.

fonte:http://aqueimaroupa.com.br1

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